O meu resumo diário das notícias e acontecimentos em tecnologia e segurança informática que considero mais relevantes. Leitura de 2 minutos para te manteres atualizado.

19 de Dezembro
Telemedicina 2026: IA e novas regras vão redefinir o acesso aos cuidados de saúde
A partir de 2026, a telemedicina deverá deixar de ser um “canal alternativo” para se tornar infraestrutura central dos sistemas de saúde, impulsionada pela integração massiva de inteligência artificial (IA) e por mudanças regulatórias e de pagamento, sobretudo nos Estados Unidos, mas com reflexos diretos na Europa e em Portugal. Analistas projetam que entre 25% e 30% das consultas médicas nos EUA passem a ser virtuais até final de 2026, com forte peso nas áreas de saúde mental, imagiologia e cardiologia, suportadas por mais de 1.200 dispositivos médicos com IA já aprovados pela FDA, a maioria em imagiologia e 116 em cardiologia.
Qual o impacto provável na Europa
- A União Europeia está a consolidar o enquadramento digital da saúde com o Regulamento do Espaço Europeu de Dados de Saúde (EHDS), que vai facilitar o acesso seguro a dados clínicos e a sua utilização para inovação, incluindo soluções de telemedicina e algoritmos de IA treinados em dados europeus.
- A nível jurídico, o Tribunal de Justiça da UE clarificou em 2025 que apenas atos totalmente à distância se qualificam como telemedicina no âmbito da diretiva dos cuidados transfronteiriços, deixando os modelos híbridos sujeitos, sobretudo, ao direito nacional; isto obriga hospitais e startups a desenhar serviços muito claros quanto ao que é remoto e ao que é presencial.
- Esta tendência, combinada com a futura aplicação da Lei da IA e das regras de dispositivos médicos (Regulamento MDR), empurra os fornecedores europeus a certificarem e auditarem os seus sistemas de IA clínica, mas também cria um selo de confiança que pode ser uma vantagem competitiva face ao modelo norte‑americano.
O que isto pode significar para Portugal
- Portugal já deu passos relevantes com o lançamento do serviço de teleconsultas na linha SNS 24, que permite, após triagem, encaminhar o utente para videoconsulta com médico de Medicina Geral e Familiar, integrada no registo de saúde eletrónico.
- Porém, estudos recentes alertam para a sobrecarga do SNS 24 e o risco de até 1 milhão de chamadas não atendidas no inverno de 2025‑26 se não houver reforço estrutural, apontando precisamente soluções com triagem suportada por IA, reforço de equipa e maior transparência operacional.
- A Entidade Reguladora da Saúde assumiu, no Plano de Atividades 2025 (https://www.ers.pt/media/uyinnamh/plano-de-atividades-2025.pdf), a monitorização sistemática da telemedicina no SNS e no setor privado, preparando adaptações regulatórias, enquanto um alerta de supervisão em 2024 já tinha clarificado obrigações de consentimento, privacidade e tempos de resposta para unidades de telemedicina.
Oportunidades e riscos para o ecossistema português
- As mudanças norte‑americanas na codificação e pagamento sinalizam um futuro próximo em que a monitorização remota de curta duração, a integração de wearables e os diagnósticos por IA passam a rotina — um cenário que pode ser adaptado ao SNS para doentes crónicos, envelhecimento e zonas rurais, desde que haja modelos de financiamento claros.
- Para hospitais, ordens profissionais e regulador, o desafio será equilibrar inovação e segurança: definir critérios para utilização de IA em triagem (SNS 24), radiologia e cuidados primários, garantir literacia digital dos profissionais e evitar que a telemedicina agrave desigualdades de acesso, sobretudo em populações idosas ou com baixa literacia digital.
Em resumo:
Para empresas e startups de saúde digital, abre‑se uma janela estratégica: soluções de telemonitorização com certificação europeia, integração com o Registo de Saúde Eletrónico e alinhadas com o futuro EHDS podem posicionar Portugal como test‑bed de modelos híbridos de cuidados que combinem teleconsultas, IA e proximidade territorial.
17 de Dezembro
Grupos de WhatsApp que prometem “ganhos fáceis”: o novo risco para quem tem baixa literacia digital
A CMVM (Comissão Do Mercado de Valores Mobiliários) alerta e informa que se têm multiplicado em Portugal grupos do WhatsApp, e outras redes sociais, que prometem lucros rápidos na bolsa, usando uma linguagem técnica, gráficos coloridos e, muitas vezes, fotografias e vídeos falsos, geralmente criados por IA com pessoas famosas e conhecidas de modo a ganhar credibilidade. Porém, por trás, está quase sempre o mesmo esquema: inflacionar artificialmente o preço de certas ações e deixar os pequenos investidores com prejuízos, muitas vezes por simples “confiança” nos vídeos e mensagens que lhe aparecem e por total desconhecimento do funcionamento correcto do mercado.
Estes grupos concentram‑se em ações pouco líquidas, geralmente cotadas fora da União Europeia, fáceis de manipular com um pequeno aumento de ordens de compra. Os promotores compram primeiro, lançam depois uma enxurrada de mensagens com “oportunidades imperdíveis” e empurram o preço para cima, num clássico esquema de “pump and dump” (pesquise para saber mais do que trata este esquema). Assim, quando o valor atinge o patamar desejado, vendem rapidamente as suas posições com lucro, deixando para trás quem entrou mais tarde, motivado por garantias de rentabilidades elevadas em pouco tempo e pela pressão do “é agora ou nunca”.
Para muitos investidores com baixa literacia digital e financeira, a perceção é de estar a seguir “especialistas”, quando na verdade são apenas a última peça da engrenagem.
Sinais “escondidos” que muitos não reconhecem
Os sinais de alerta estão lá, mas passam facilmente despercebidos a quem não domina o jargão financeiro ou não está habituado a desconfiar do que recebe online. Entre eles, destacam‑se: Mensagens não solicitadas com convites para entrar em grupos “exclusivos” de investimento. Utilizando perfis falsos e a usar o nome e a imagem de figuras públicas ou até de entidades supervisionadas, numa tentativa de emprestar legitimidade à burla. Para além destas formas de abordagem, há ainda truques mais subtis: pedidos de “prints” das transações para “acompanhar a estratégia”, promessas de reembolso em caso de perdas, comunicação visualmente sofisticada cheia de gráficos e termos técnicos que intimidam e levam o investidor menos experiente a pensar que “quem fala assim deve saber do que está a fazer”. Para quem tem baixa literacia digital, esta mistura de linguagem técnica com supostas “garantias” cria uma sensação enganadora de segurança.
O risco adicional da confiança cega no WhatsApp
A grande vulnerabilidade está na confiança social: muitos destes esquemas espalham‑se por convite de amigos, colegas ou familiares que, eles próprios, já foram convencidos pelo grupo. Em contextos de baixa literacia digital, a lógica é simples: “se veio pelo contacto do meu amigo, deve ser sério”, o que reduz drasticamente o nível de desconfiança crítica.
O formato de conversa rápida, notificações constantes e linguagem urgente (“última oportunidade”, “entra já”) reduz o tempo para pensar e verificar, favorecendo decisões impulsivas. A isto junta‑se o medo de “ficar para trás” numa promessa de enriquecimento fácil, um gatilho psicológico bem conhecido e explorado por quem monta estes esquemas.
O que a CMVM recomenda – e porque isto é também um problema de literacia
A CMVM aconselha os investidores a desconfiar de qualquer recomendação de investimento recebida por grupos de redes sociais e a confirmar sempre se a entidade ou pessoa em causa está autorizada a prestar serviços de investimento em Portugal. No Portal do Investidor (https://investidor.cmvm.pt/PInvestidor/), o regulador disponibiliza listas de intermediários autorizados e conteúdos de literacia financeira precisamente para ajudar quem tem menos conhecimentos a reconhecer sinais de fraude.
Em caso de suspeita, a orientação é clara: não investir, não enviar dados pessoais ou comprovativos de operações e contactar de imediato a Linha de Apoio ao Investidor (800 205 339) ou o email indicado pela CMVM para pedir esclarecimentos ou denunciar o caso. Posto isto, numa sociedade onde muitos adultos usam o WhatsApp como principal fonte de informação e têm dificuldade em distinguir recomendação qualificada de pura especulação, o desafio já não é apenas reprimir burlões, mas sim é acelerar a literacia digital e financeira para que a próxima “dica quente” não se transforme, outra vez, em dinheiro perdido.
12 de Dezembro
“Infância sem ecrãs”: o movimento global que quer atrasar o primeiro smartphone para as crianças
Um movimento global de pais está a ganhar força ao defender que as crianças não devem ter um smartphone antes dos 14 anos, nem redes sociais antes dos 16 anos, numa tentativa de travar os “impactos dos ecrãs” na saúde mental infantil. O fenómeno, que começou no Reino Unido, já se espalhou por dezenas de países e começa agora a influenciar leis, escolas e decisões familiares em todo o mundo.
A iniciativa Smartphone Free Childhood nasceu em 2024, quando um grupo de pais britânicos decidiu organizar‑se para dizer “não” ao smartphone precoce, criando pactos locais entre famílias em que os seus filhos andam na mesma escola ou da comunidade local. Hoje, o movimento reúne mais de uma centena de milhares de pais, ligados em grupos locais em mais de 30 países, com a mesma ideia central: reduzir a pressão social e normalizar a opção de adiar o primeiro telemóvel inteligente.
É um facto, e estudos recentes associam a posse de o uso de smartphone em idades muito baixas a piores resultados de saúde mental, na adolescência e no início da idade adulta, especialmente entre as raparigas. A preocupação cresce num contexto em que, por exemplo, no Reino Unido cerca de um quarto das crianças entre os 5 e os 7 anos já possui um smartphone, o que é visto pelos reguladores como um “alerta” para governos e plataformas digitais.
Políticas a mudar em vários países
A discussão já saiu do plano doméstico e chegou às políticas públicas: alguns países avançaram com restrições formais ao uso de telemóveis nas escolas e limites de idade para redes sociais. Vários estados norte‑americanos adoptaram regras mais rígidas sobre telemóveis nas salas de aula, enquanto governos de outros continentes estudam formas de proteger menores do acesso irrestrito à internet.
Em Portugal, o Governo aprovou a proibição do uso de telemóveis e outros dispositivos com acesso à internet por alunos do 1.º e 2.º ciclos, do 1.º ao 6.º ano, em todo o recinto escolar a partir do ano letivo de 2025/2026. Paralelamente, será reforçada a atenção aos efeitos do excesso de ecrãs em idades críticas, com medidas como a proibição de manuais escolares digitais no 1.º ciclo para proteger a aprendizagem da leitura e da escrita. Algo que os pais em casa ou quando estão em família ou com amigos não conseguem evitar. Este ano no Natal será, por certo, uma prenda que muitos avós e pais vão dar às crianças.
Conclusão
O avanço deste movimento mostra que a discussão sobre smartphones na infância deixou de ser um tema privado e passou a ser uma questão de saúde pública e de política educativa. Portugal, ao restringir o uso de telemóveis nas escolas, alinha‑se com a tendência internacional, mas continuará a enfrentar o desafio de equilibrar proteção, inclusão digital e educação para um uso crítico e responsável da tecnologia.
11 de Dezembro
Verificação de idade no acesso às redes sociais: Uma perspectiva portuguesa
A discussão que se tem falado nos últimos dias sobre verificação de idade no acesso às redes sociais até aos 16 anos e que cruza essencialmente com a proteção de menores no acesso a certos conteúdos, alguns que são até proibidos pela constituição portuguesa e pelo código penal, como a xenofobia ou o discurso e apelo ao ódio, mas que se encontram facilmente espalhados pela Internet e nas redes sociais que são acessíveis a qualquer um, independentemente da idade. Aconselho a ver a série premiada “Adolescência” para se perceber melhor o nível de problema nos jovens.
Mas deixo a pergunta: como se pode verificar com rigor a idade no acesso às redes sociais ? Apesar de existirem diversos métodos que podem ser combinados como autorização explícita dos pais em documento, processos de biometria, análise dos dados do dispositivo, etc., mas de facto nenhum é perfeito e alguns são facilmente contornáveis e existe forte debate sobre privacidade, a sua eficácia e a proporcionalidade da intrusão, sobretudo em modelos muito restritivos como no modelo adoptado pela Austrália.
Na UE, a opção política dominante não é proibir o acesso abaixo de uma certa idade, mas obrigar as plataformas a avaliar riscos para menores e a aplicar mecanismos de verificação “privacy‑by‑design”, integrados com a futura Identidade Digital Europeia, de forma harmonizada entre Estados‑Membros, algo que me parece ser algo impossível de vir a acontecer nos próximos anos. Já que a linha dominante no debate político passa por exigir às plataformas mecanismos robustos de avaliação e mitigação de riscos para crianças (via DSA) e por promover soluções técnicas de verificação “privacy‑by‑design”.
E em Portugal como estamos ?
Em Portugal existem diversas opiniões, em que a abordagem se enquadra num modelo mais regulatório e gradual, em que o foco está na transposição e aplicação do quadro europeu, na atuação das entidades reguladoras e na sensibilização, mais do que em proibições absolutas. Como tal, Portugal está alinhado com a UE e enfrenta um triplo dilema: 1º como garantir uma proteção efetiva de crianças e jovens; 2º como evitar soluções que criem novos riscos de vigilância e de discriminação e em 3º como assegurar que qualquer sistema adotado é tecnicamente viável e interoperável, já que existe o risco de recolha massiva de dados sensíveis, sobretudo biométricos.
Conclusão
Para Portugal, a margem de manobra passa menos por copiar modelos proibicionistas como o australiano e mais por influenciar a implementação europeia, defendendo soluções de verificação de idade proporcionais, auditáveis e ancoradas em princípios de minimização de dados, transparência e controlo pelo utilizador. A decisão política central não é “se” deve proteger menores, mas “como” o fazer sem transformar a verificação de idade numa porta de entrada para uma infraestrutura de identificação massiva e permanente no espaço digital. Ou seja, existe em uma controvérsia que é similar à da UE em que associações de proteção de menores tendem a defender mecanismos mais fortes de controlo, enquanto organizações de direitos digitais, peritos em proteção de dados e parte da comunidade técnica questionam a proporcionalidade, o risco de vigilância e a recolha massiva de dados sensíveis, sobretudo biométricos. Portanto, qualquer decisão não será para breve.
10 de Dezembro
Cérebro, IA e linguagem: quando o humano começa a parecer máquina
Uma equipa internacional apresentou um estudo, publicado na Nature Communications, que demonstra que o cérebro processa a linguagem falada em etapas sucessivas muito semelhantes às camadas de modelos de linguagem de grande escala (mais conhecidos como LLMs) como os sistemas que hoje geram texto automaticamente. Estudos com registos diretos de atividade cerebral mostraram que respostas mais rápidas correspondem a operações simples, enquanto respostas posteriores alinham com camadas de IA que integram contexto e significado mais abstrato. Este paralelismo reforça a ideia de que a compreensão emerge gradualmente, à medida que o cérebro acumula e combina pistas linguísticas.
Outra linha da investigação analisou milhões de palavras em podcasts para demonstrar que certos termos preferidos por sistemas de IA começaram a aparecer com muito mais frequência na fala espontânea depois de 2022. Em vez de nascerem em subculturas ou gíria juvenil, estes “tiques” linguísticos são impulsionados por textos gerados por algoritmos que milhões de pessoas leem e interiorizam. O fenómeno, batizado de “infiltração lexical”, levanta o alerta: se cada grande modelo tiver um “estilo” próprio, diferentes populações podem acabar a falar de forma mais homogénea ou até segmentada por fornecedor de tecnologia.
Neurónios virtuais a alta velocidade
Um terceiro avanço vem de um novo quadro de IA capaz de criar modelos virtuais de neurónios milhares de vezes mais rápido do que os simuladores numéricos tradicionais, sem perder fidelidade biológica. A ferramenta combina equações de neurónios realistas com redes neuronais especializadas em aprender funções contínuas, permitindo gerar um número praticamente ilimitado de neurónios sintéticos. Este salto de desempenho abre caminho a simulações de circuitos cerebrais em larga escala e a novas pontes entre genética, atividade elétrica e possíveis tratamentos para doenças neurológicas.
Os avanços recentes em inteligência artificial (IA) estão a transformar profundamente a investigação sobre a linguagem e o cérebro. Os estudos demostram que o processamento linguístico humano espelha as camadas de raciocínio dos grandes modelos de linguagem, que o vocabulário gerado por IA começa a infiltrar-se no discurso quotidiano e que ferramentas como o NOBLE permitem modelar neurónios com precisão e velocidade inéditas. Estas descobertas desafiam teorias tradicionais e abrem novas possibilidades para compreender como o cérebro constrói significado e comunicação. Em conjunto, demonstram uma convergência inédita entre a inteligência artificial e a inteligência biológica.
09 de Dezembro
Portugal acelera o investimento em IA e em inovação, mas cresce o medo pelo futuro do trabalho em Portugal
Empresas portuguesas entram em 2025 com vontade de investir, de acordo com recente inquérito do Banco Europeu de Investimento (BEI), mas carregam um mal-estar crescente em relação ao futuro da economia e do trabalho. Ao mesmo tempo que reforçam apostas em inovação, inteligência artificial e mesmo na ação climática, admitem sentir mais incerteza e pressão regulatória do que a média europeia.
Uma em cada seis empresas em Portugal prevê aumentar o investimento em 2025, colocando o país entre os primeiros da União Europeia, com um saldo líquido de 16% face a apenas 4% na média comunitária. Cerca de 84% das empresas já investiram no último exercício, em linha com a UE, o que mostra um tecido empresarial com dinamismo, apesar do contexto volátil.
O novo ciclo de investimento está a ser canalizado para três eixos centrais: inovação, adoção de ferramentas de inteligência artificial e ação climática. As empresas portuguesas declaram investir mais do que a média europeia em tecnologia e sustentabilidade, sinalizando uma corrida para não perder competitividade numa economia cada vez mais digital e verde.
Otimismo no setor, pessimismo no mundo
Quando olham para o seu próprio setor, muitas empresas acreditam que o negócio vai melhorar nos próximos 12 meses, com um saldo líquido positivo de cerca de 14%, muito acima de uma Europa praticamente estagnada. Mas, ao olhar para o clima económico global e político, o tom muda: o pessimismo é acentuado, com um saldo negativo de -45%, pior do que o registado na média da UE.
Facto a assinalar: Uma regulação pesada, incerteza sobre o futuro, dificuldades de financiamento e escassez de trabalhadores qualificados surgem como travões claros ao investimento. Por trás dos números, está também um país em que a transformação tecnológica acelera mais depressa do que a capacidade das pessoas se adaptarem (falta de formação por parte das empresas e pelo estado que devia ser um motor para a transformação), alimentando ansiedade laboral e medo de ficar para trás num mercado dominado por IA e automatização. Para perceber melhor basta ler o Anteprojecto de Lei da reforma da Legislação Laboral – Trabalho XXI, o que possibilita uma maior precariedade.
Liderança feminina e futuro em disputa
O inquérito destaca ainda a forte presença de mulheres na gestão de topo: 41% das empresas têm pelo menos 40% de mulheres em cargos de liderança, muito acima da média europeia (que é apenas 25%). Entre investimento recorde, ambição tecnológica e um sentimento difuso de insegurança, o retrato que emerge é o de um país que acelera rumo ao futuro, mas onde trabalhadores e gestores se veem obrigados a reaprender rapidamente para não serem ultrapassados pela própria mudança.
Citando o jornal o Sol: “Empresas portuguesas entram em 2025 com vontade de investir, mas carregam um mal-estar crescente em relação ao futuro da economia e do trabalho (basta ler o . Ao mesmo tempo que reforçam apostas em inovação, inteligência artificial e ação climática, admitem sentir mais incerteza e pressão regulatória do que a média europeia.
Mais investimento, acima da média europeia
Uma em cada seis empresas em Portugal prevê aumentar o investimento em 2025, colocando o país entre os primeiros da União Europeia, com um saldo líquido de 16% face a apenas 4% na média comunitária. Cerca de 84% das empresas já investiram no último exercício, em linha com a UE, o que mostra um tecido empresarial ainda dinâmico apesar do contexto volátil.
Inovação, IA e clima como prioridade
O novo ciclo de investimento está a ser canalizado para três eixos centrais: inovação, adoção de ferramentas de inteligência artificial e ação climática. As empresas portuguesas declaram investir mais do que a média europeia em tecnologia e sustentabilidade, sinalizando uma corrida para não perder competitividade numa economia cada vez mais digital e verde.
Otimismo no setor, pessimismo no mundo
Quando olham para o seu próprio setor, muitas empresas acreditam que o negócio vai melhorar nos próximos 12 meses, com um saldo líquido positivo de cerca de 14%, muito acima de uma Europa praticamente estagnada. Mas, ao olhar para o clima económico global e político, o tom muda: o pessimismo é acentuado, com um saldo negativo de -45%, pior do que o registado na média da UE.
Obstáculos reais e ansiedade invisível
Regulação pesada, incerteza sobre o futuro, dificuldades de financiamento e escassez de trabalhadores qualificados surgem como travões claros ao investimento. Por trás dos números, está também um país em que a transformação tecnológica acelera mais depressa do que a capacidade das pessoas se adaptarem, alimentando ansiedade laboral e medo de ficar para trás num mercado dominado por IA e automatização.
Liderança feminina e futuro em disputa
O inquérito destaca ainda a forte presença de mulheres na gestão de topo: 41% das empresas têm pelo menos 40% de mulheres em cargos de liderança, muito acima da média europeia. Entre investimento recorde, ambição tecnológica e um sentimento difuso de insegurança, o retrato que emerge é o de um país que acelera rumo ao futuro, mas onde trabalhadores e gestores se veem obrigados a reaprender rapidamente para não serem ultrapassados pela própria mudança.
Citando o jornal o Sol: “Os principais obstáculos ao investimento continuam a ser a falta de trabalhadores qualificados, a incerteza quanto ao futuro e o peso das regulações laborais e empresariais — desafios sentidos com maior intensidade em Portugal do que no resto da União Europeia”.
05 de Dezembro
IA da Google Cloud transforma PubMed em “motor de decisões clínicas”, abrindo novo capítulo para a medicina de precisão em Portugal
A disponibilização da base de dados PubMed na plataforma de dados BigQuery, integrada com as capacidades de IA generativa da Vertex AI, marca um passo estratégico na forma como a informação médica é pesquisada e utilizada a nível global. Em vez de pesquisas por palavras‑chave, passa a ser possível fazer consultas em linguagem natural e obter artigos relevantes mesmo quando a terminologia difere entre países, especialidades ou escolas científicas.
O que mudou com o PubMed na cloud
O PubMed, mantido pelo National Institutes of Health (NIH), reúne mais de 35 milhões de artigos biomédicos e cresce em cerca de 1,5 milhões por ano, o que torna a pesquisa tradicional lenta e incompleta. Ao tornar este acervo um dataset público em BigQuery, a Google Cloud permite correr análises em larga escala, cruzar padrões em milhares de estudos e integrar diretamente estes resultados em aplicações apoiadas por IA.
Com a Vertex AI Vector Search, médicos e investigadores podem fazer perguntas complexas — por exemplo sobre combinações de terapias, efeitos adversos raros ou perfis de doentes — e obter resumos estruturados da literatura mais relevante em minutos. Esta abordagem já está a ser utilizada no centro pediátrico Prinses Máxima, nos Países Baixos, através do sistema Capricorn, que combina PubMed, BigQuery e modelos Gemini para apoiar reuniões de tumor boards oncológicos.
Potencial impacto em Portugal
Em Portugal, grupos de saúde como a rede CUF ou o Hospital da Luz já utilizam a Google Cloud para modernizar infraestruturas digitais de saúde, este tipo de solução pode evoluir naturalmente para apoiar investigação clínica, decisões de tumor boards e formação médica contínua. Hospitais, universidades e centros de investigação podem usar BigQuery para explorar rapidamente literatura internacional, ligar estes dados a registos clínicos anonimizados e testar hipóteses sobre eficácia terapêutica ou segurança de fármacos em populações específicas.
Entre os benefícios potenciais estão: acelerar o diagnóstico de doenças raras, reduzir o tempo de revisão de literatura em ensaios clínicos, apoiar programas de medicina personalizada em oncologia e reforçar projetos de investigação translacional. Para o ecossistema tecnológico português, abre‑se ainda um espaço de inovação para startups e empresas de healthtech desenvolverem soluções de apoio à decisão clínica, farmacovigilância e descoberta de fármacos, construídas sobre dados públicos estruturados e IA generativa na cloud.
No Hospital da Luz, um cardiologista que segue doentes com fibrilhação auricular medicados com anticoagulantes orais pode usar a nova integração do PubMed com BigQuery e Vertex AI para ir além das listas tradicionais de interações em bulas ou bases de dados estáticas. Em segundos, lança uma pesquisa em linguagem natural sobre “interações entre um determinado anticoagulante e antiepiléticos, antirretrovirais ou fármacos usados em oncologia”, obtendo sínteses da literatura que identificam fármacos potencialmente antagonistas, alterações de eficácia ou aumento de risco hemorrágico, bem como recomendações de vigilância descritas em estudos recentes.
Este tipo de abordagem é particularmente útil quando o doente tem múltiplas patologias crónicas e toma vários medicamentos, situação frequente em cardiologia, medicina interna ou oncologia. Ao combinar dados de artigos internacionais sobre anticoagulantes, perfis farmacocinéticos e relatos de reações adversas com informação clínica local, o médico consegue avaliar, por exemplo, se a introdução de um novo fármaco para insuficiência cardíaca, diabetes, doenças autoimunes ou cancro poderá reduzir a eficácia do anticoagulante ou potenciar eventos trombóticos ou hemorrágicos.
A parceria já anunciada entre o Hospital da Luz, a Deloitte e a Google Cloud, focada em soluções de IA generativa e valorização da informação clínica, cria o contexto ideal para cenários deste tipo em Portugal. Além dos cardiologistas, especialistas em neurologia, reumatologia, infeciologia ou oncologia podem explorar o mesmo motor semântico sobre o PubMed para mapear interações entre imunossupressores, biológicos, antivirais ou terapêuticas alvo e outros medicamentos em uso crónico, reduzindo o risco de combinações antagonistas e permitindo decisões mais personalizadas e seguras para os doentes.
04 de Dezembro
Testes sanguíneos com análise de IA detectam câncer através de sinais ao nível celular
Os novos testes ao sangue e à urina assistidos por IA analisam exossomas (minúsculas vesículas libertadas pelas células) para detetar assinaturas moleculares de cancro em fases muito precoces, de forma não invasiva e potencialmente mais cómoda do que as biópsias tradicionais. A revisão agora publicada mostra que combinar multi-omics (proteínas, RNA, lípidos, metabolitos) com algoritmos de IA permite reconhecer padrões subtis nestes “mensageiros” celulares e distinguir amostras saudáveis de cancerosas com elevada precisão, abrindo caminho a rastreios de rotina e monitorização contínua da doença.
Actualmente a investigação em biópsias líquidas baseadas em exossomas está a crescer rapidamente, com estudos a demonstrarem diagnósticos multi-tumor a partir de uma única amostra de sangue, recorrendo a técnicas como o SERS combinado com a IA deep learning (aprendizagem profunda), já a atingir taxas de acerto superiores a 90–95% em alguns protótipos. Há dezenas de ensaios clínicos em curso a explorar exossomas para deteção precoce, monitorização de resposta ao tratamento e deteção de doença residual mínima, bem como plataformas microfluídicas e biossensores otimizados para uso clínico rotineiro.
Inovação em Portugal
Em Portugal, existem já vários centros oncológicos e institutos académicos que trabalham em biópsias líquidas e biomarcadores para oncologia de precisão, incluindo o IPO Porto, que integra consórcios nacionais dedicados a novos biomarcadores circulantes para diagnóstico, prognóstico e monitorização. Grupos no Porto e em outros polos (como i3S) investigam biomarcadores em sangue, saliva e outros fluidos, usando ómicas (genómica, transcriptómica, proteómica, metabolómica) e análise computacional, o que cria uma base científica que poderá integrar, a curto/médio prazo, abordagens com exossomas e IA quando estas tecnologias estiverem mais maduras para aplicação clínica.
03 de Dezembro
Investigadores da University of Technology Sydney (UTS) mostraram que o suor pode tornar‑se um dos principais fluidos para diagnóstico e monitorização contínua da saúde, graças à combinação de sensores vestíveis avançados e inteligência artificial. O trabalho divulgado a 1 de dezembro de 2025 e publicado na revista científica Journal of Pharmaceutical Analysis. A equipa da UTS analisou o potencial do suor para monitorizar em tempo real hormonas, fármacos e outros biomarcadores associados a doenças como diabetes, cancro, Parkinson e Alzheimer. O estudo sublinha que o suor é um fluido de diagnóstico ainda pouco explorado, apesar de ser fácil de recolher e adequado para medições contínuas com dispositivos vestíveis.
Os autores da investigação, defendem que sensores de suor em forma de “patch” flexível poderão, no futuro, substituir muitos testes de sangue ou urina em contextos como o acompanhamento de doentes crónicos ou a prevenção de doença. Estes dispositivos permitem medir vários biomarcadores em simultâneo e enviar os dados sem fios, abrindo caminho a uma medicina mais preventiva, personalizada e menos invasiva.
Da performance desportiva ao doente crónico
A tecnologia, já usada em contexto desportivo serve para avaliar a perda de eletrólitos e esforço físico, está a evoluir para aplicações clínicas, como o possível controlo da glicose ou do cortisol a partir do suor. Para atletas, estes sensores podem otimizar hidratação e recuperação; para doentes, podem permitir detectar alterações metabólicas ou efeitos de medicamentos antes de surgirem sintomas visíveis.
Importância da inteligência artificial
Segundo os investigadores, a evolução da IA desde 2023 foi decisiva para interpretar os padrões químicos complexos presentes no suor, ligando pequenas variações moleculares a estados fisiológicos específicos. A IA permite analisar grandes volumes de dados destes sensores, melhorar a precisão diagnóstica e, no futuro, apoiar decisões clínicas em tempo real através de dispositivos compactos, de baixo consumo e com transmissão de dados segura, algo que cães treinados conseguem, em muitos estudos, detectar doenças humanas pelo odor corporal (incluindo suor) com taxas de acerto que vão de “moderadas” a “muito elevadas”, mas ainda com grande variação e sem padronização suficiente para uso clínico rotineiro.
Papel do suor e do olfato canino
O suor, sobretudo o das axilas, é rico em compostos orgânicos voláteis que compõem o “cheiro” individual e de doença, sendo por isso uma matriz de eleição em estudos com cães detetores. Revisões recentes concluem que cães bem treinados conseguem reconhecer padrões de odor associados a doença em amostras de suor com probabilidades de acerto claramente superiores ao acaso, mas defendem que ainda é preciso padronizar métodos, tamanhos de amostra e validação antes de falar em “diagnóstico” formal.
As grandes diferenças e as similaridades
O cão tem recetores biológicos extremamente sensíveis e um processamento olfativo natural muito sofisticado, enquanto a IA depende da qualidade dos sensores e dos dados de treino que recebe. Contudo, a vantagem da IA é a sua escalabilidade: uma vez treinado, um “nariz eletrónico” pode ser reproduzido em massa, manter desempenho estável e integrar‑se em dispositivos portáteis como smartwatches ou até smartphones, algo impossível com cães em grande escala.
Subscreve o nosso RSS para receberes os Daily Prompts automaticamente no NewsBlur, ou no Feedly.com
https://formacaoajuda.com/category/daily-prompt/feed/
Se queres subscrever os artigos e Podcasts da Ajuda à Informática e assim receberes os novos artigos.